Jornalismo e acessibilidade: um diálogo que não existe
Por Joana Belarmino e Ana Moura*
Os números não mentem. O jornalismo produzido na e para a web, no Brasil e na Paraíba, não promove estratégias de acessibilidade aos seus conteúdos. O tema não é normalmente discutido, nem pelos desenvolvedores dos ambientes de sites de notícias, tampouco pelos jornalistas nos seus ambientes de trabalho. Pesquisas demonstram que pessoas com deficiência visual e auditiva não são pensadas nem vistas como consumidoras de notícias no mundo midiático.
Do ponto de vista legal, o acesso pleno à informação para pessoas com deficiência é assegurado pela Lei Geral de Acessibilidade, sancionada em 2000, e pela Lei Brasileira de Inclusão, sancionada em 2015. No universo online, porém, tanto nos portais públicos de notícias quanto nos portais comerciais, a acessibilidade ainda é uma “ilustre desconhecida”.
Algumas pesquisas de mestrado e de doutorado, em programas de universidades brasileiras, têm demonstrado essa realidade desvantajosa. Num balanço geral, menos de 1% dos sites brasileiros em funcionamento pensaram em estratégias de acessibilidade para pessoas cegas, surdas ou ensurdecidas. Essa audiência, denunciada pelo extenso trabalho da Agência Nacional pelo Direito da Infância, ANDI, no início do século XXI, continua invisível nesse imenso tráfego dos conteúdos jornalísticos, e mesmo nos meios clássicos de distribuição de conteúdos, como as televisões comerciais.
A realidade que muitos profissionais da mídia desconhecem é que pessoas com deficiência visual e auditiva são consumidores de conteúdos jornalísticos, e que, todos os dias, defrontam-se com dificuldades de acesso ou barreiras de acessibilidade nos conteúdos jornalísticos, nos portais, na televisão e no cinema, e, em espetáculos culturais de um modo geral. Esses conteúdos, em sua grande maioria, não são preparados para pessoas cegas ou pessoas com baixa visão; pessoas surdas ou com deficiência auditiva; pessoas com dificuldades motoras e disléxicas. Se, no mundo físico, esses coletivos enfrentam barreiras arquitetônicas e atitudinais, nos ambientes virtuais também se defrontam com barreiras que restringem ou inviabilizam o pleno acesso aos conteúdos.
Se o tema é completamente desconhecido do campo jornalístico e comunicativo, já possui um grande acervo acumulado nas bases de dados dos sites especializados. Desde a década dos anos noventa do século XX que a acessibilidade é objeto do consórcio mundial W3C, criador das Diretrizes Internacionais de Acessibilidade, um conjunto de protocolos que, se aplicados, tornam os ambientes virtuais navegáveis e acessíveis a todos os públicos. No Brasil, essas diretrizes podem ser encontradas no portal do governo eletrônico brasileiro. Vale referir, ainda, a importância do Movimento Web para Todos, onde os especialistas levam a sério o tema da acessibilidade.
Na UFPB, o Grupo de Pesquisas em Jornalismo, Mídia, Acessibilidade e Cidadania desenvolve pesquisas voltadas ao tema, e, mais recentemente, através do projeto de extensão aprovado no Edital Proex 2021.1, criou o espaço Monitora UFPB, para avaliar a qualidade da acessibilidade nos portais de notícias da Paraíba. Essa é mais uma iniciativa que se associa ao Observatório Paraibano de Jornalismo e às atividades de monitoramento da qualidade da informação jornalística local.
Os resultados do trabalho do Monitora UFPB serão divulgados em artigos e conteúdos multimídia, pois, não basta apenas monitorar e denunciar, mas sobretudo apontar os desafios e as soluções para a constituição de uma sociedade cidadã e de um jornalismo realmente para todos. Esta é uma responsabilidade de e para todos nós!
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*Bolsista do projeto “Monitoramento da acessibilidade aos conteúdos jornalísticos nos portais paraibanos”.
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