Quando não cabe dar uma de João sem Braço
Descrição para cegos: reprodução do quadro ‘Mona Lisa’, pintado pelo italiano Leonardo da Vinci, que retrata uma mulher de sorriso tímido e braços suavemente cruzados sobre a cintura. |
por Rubens Nóbrega (observador credenciado)
Jornalista que é jornalista não pode imitar
o mendigo da idade das trevas (não a contemporânea) que escondia um dos braços
sob a camisa para se passar por mutilado e assim receber alguma benesse dos
poderosos ou ricos piedosos.
Jornalista que é jornalista não pode
fazer a egípcia ou a Mona Lisa, ou seja, fingir que não vê, não sabe ou, se
sabe, não dar a devida importância quando o assunto é do interesse público, de
quem precisa de informação verdadeira, acreditável.
Na contramão das enrolações ou
omissões caminham as sugestões a seguir, oferecidas com o único propósito de
lembrar ou provocar apuração, revisitação ou aprofundamento de fatos que podem
causar ou já causaram impacto na Paraíba.
Tenho fontes e subsídios. Repasso
tranquilo, na boa e no privado a(o) colega que se disponha a fazer o que pode e
deve ser feito.
1. Nem só de
Semob vive a informação sobre trânsito
O trânsito de automóveis em João
Pessoa vem sofrendo sucessivas alterações de fluxo e sinalização em vias de
tráfego mais intenso. As mudanças são decididas e implementadas pela
Superintendência de Mobilidade Urbana (Semob), órgão municipal competente para
tanto.
Tais decisões são tomadas, por
suposto, com base na engenharia de trânsito, mas sem ouvir a população diretamente
afetada pelas modificações, noticiadas pela imprensa local quase sempre ou
exclusivamente com base em informações de dirigentes ou assessorias da Semob e
da Prefeitura.
Que tal, então, mudar esse roteiro? Como?
Fácil... Verificando in loco se realmente melhorou a fluição do trânsito na área;
ouvindo moradores e comerciantes do bairro; pedindo avaliação de técnicos autônomos;
fazendo, enfim, reportagem que diga se as ideias da Semob ‘correspondem (ou
não) aos fatos’.
2. Magistério de
boca amordaçada e mãos amarradas
Professores de escolas particulares da
Paraíba estariam evitando manifestações políticas em rede social por temerem
demissão, suposta reação do patronato contra quem diverge dos valores,
pensamentos e sentimentos pretensamente bolsonaristas de muitos donos de colégio.
Apenas concursados da rede pública
estariam exercendo plenamente, publicamente e sem medo a sua liberdade de
expressão para opinar sobre temas, assuntos e situações que oprimem a imensa
maioria dos brasileiros, aí incluída a própria categoria a que pertencem.
Quem se dispuser a investigar e escrever sobre o problema, recomendo procurar e questionar os sindicatos dos trabalhadores e empregadores da área. Sem prejuízo de colher depoimentos de pessoas que se dizem prejudicadas, publicando-os sem identificação dos alvos de presumíveis retaliações.
3. A quantas andam as rachadinhas na Assembleia?
Instaurado pela promotora de Justiça Adriana de França
Campos desde 26 de fevereiro deste ano, o inquérito do Ministério Público da
Paraíba (MPPB) que apura rachadinha na Assembleia Legislativa somente chegaria ao
conhecimento do distinto público dez dias depois, graças ao portal Página1PB,
de Campina Grande. Desde então...
São investigados por supostos crimes de peculato, falsidade
ideológica, possível e consequente lavagem de dinheiro (o combo da rachadinha),
os deputados Adriano Galdino (presidente da Assembleia), Caio Roberto, Doda de
Tião e Edmilson Soares e a ex-deputada Eva Gouveia. As investigações seguem sob
sigilo, agora sob nova direção, assumidas que foram no final de novembro último
pela Comissão de Combate aos Crimes de Responsabilidade e à
Improbidade Administrativa (Ccrimp) do MPPB.
O sigilo não impede, contudo, que o jornalismo demande a Ccrimp para saber se testemunhas e investigados já foram ouvidos, se foram quebrados sigilos bancário, fiscal e ou telemático dos denunciados, se o inquérito já esgotou prazo de conclusão, se foi prorrogado, quando deverá ser finalizado, se alguém recorreu à Justiça para suspender ou arquivar as investigações...
Mestre Rubens, pra cumprirem essas pautas bastam deixarem a assessoria de imprensa de lado e fazerem o bom e velho jornalismo, como você bem sugere.
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