Policialesco reforça preconceito
contra ocupações populares
Descrição para cegos: foto de uma parede onde se lê a pichação: “Você tem onde morar? Eu não”. Ao lado da pichação, veem-se bolsas penduradas em um prego. (foto de Fernanda Morena). |
Por Mabel Dias (observadora credenciada)
No último sábado, 12 de fevereiro, o programa
policialesco Cidade em Ação, transmitido pela TV Arapuan, exibiu uma reportagem
sobre a prisão de duas pessoas que, segundo a guarda municipal de João Pessoa,
responsável pela prisão, estavam realizando golpes pela internet. Entre os
entrevistados na matéria estão o Secretário de Segurança Municipal, João
Almeida, e uma das guardas municipais que atuou para a detenção dos suspeitos.
No momento da entrevista com o secretário, realizada
pela repórter Thaisa Aureliano, são mostradas imagens da Ocupação Popular Terra
Livre, que fica na Av. Pedro II, Centro da capital. Segundo o secretário, as
pessoas que foram detidas estavam morando nessa ocupação. A imagem do local é
exibida várias vezes durante a reportagem, enquanto o secretário fala em “formação
de quadrilha”.
Em nenhum momento, a equipe de reportagem da Arapuã
foi até a ocupação Terra Livre e procurou os responsáveis pelo local para saber
a sua versão dos acontecimentos. Não fazendo o que preconiza o Jornalismo,
ouvir os dois lados de uma história. Nós do Observatório Paraibano de
Jornalismo fizemos isso, pois acompanhamos há algum tempo o trabalho desenvolvido
pela coordenação da ocupação com as famílias que moram lá.
A mídia tradicional não demonstra muito apreço a
ocupações nem as lutas populares, e por isso, nas matérias sobre esses
movimentos reforça mais estereótipos do que os combate. E quando se trata de
programas policialescos, então...
Da maneira que foi repassado pela reportagem do Cidade
em Ação, reforça-se no imaginário da sociedade que na Ocupação Terra Livre “só
tem bandidos”, pois duas pessoas, bom que se diga, suspeitas de estarem realizando golpes virtuais, moravam lá. Isso
segundo o Secretário de Segurança do município, João Almeida.
Procuramos as pessoas responsáveis pela ocupação
através do Instagram da Escola Terra Livre, que oferece aulas gratuitas para as
crianças que moram na ocupação. Falamos com a coordenação pedagógica da escola,
que demonstrou preocupação com a exibição da reportagem e disse não conhecer as
pessoas que foram presas.
“As famílias que moram na Ocupação Terra Livre
trabalham, mas não têm condições de pagar aluguel, por isso ocuparam esse
local, que estava abandonado, sem uso. Temos muitas mulheres com filhos, e por
isso, decidimos organizar uma escola para as crianças”.
A coordenação da Escola Terra Livre nos contou também
que existe uma comissão encarregada de administrar a Ocupação, formada pelos
próprios moradores e moradoras, e a equipe da escola oferece apoio. “A escola
funcionava na frente da casa, mas por causa do barulho dos carros que passam
pela rua, estamos construindo uma sala e ela ainda está sendo finalizada, e
assim, podermos oferecer melhores condições de aprendizagem para as crianças”, explicou.
No Instagram da escola da ocupação foi iniciada uma
campanha permanente para arrecadar recursos e garantir o funcionamento do
local. A escola popular Terra Livre foi criada em 12 de outubro de 2021, Dia das
Crianças, e atende crianças e adolescentes da ocupação, que vivem em situação
de vulnerabilidade social, com aulas de segunda a sexta, com o objetivo de
ajudar no desenvolvimento, tanto escolar como pessoal e social, promovendo uma
educação contextualizada no meio social e de luta que vivenciam.
Se você quiser ajudar e conhecer melhor o trabalho desenvolvido na Ocupação Terra Livre, é só acessar o Instagram deles: @escolaterralivre.
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