COLUNISMO POLÍTICO

Especulação como fonte

e ramerrame como estilo

Descrição para cegos: imagem reúne duas fotos – à esquerda, de Cássio Cunha Lima; à direita, de Veneziano Vital. Ambos estão no mesmo cenário, o púlpito do Senado Federal, discursando através de dois microfones. 

por Rubens Nóbrega (Observador Credenciado)

É uma quase obsessão. Autoproclamados analistas políticos da imprensa paraibana investem regularmente, vibrantemente, toda a imaginação e criatividade na especulação sobre o futuro dos principais expoentes da política estadual. Quer ver? Ultimamente, por exemplo, dedicam-se com muito afinco a projeções sobre rompimentos de aliados ocasionais ou alianças de adversários tradicionais. Vejamos algumas situações, que alguns desse meio chamam jocosamente de ‘moídos’.

De uns tempos pra cá, como diria o poeta Chico César, difícil passar um dia sem comentaristas da área indicarem um irremediável e incontornável afastamento entre o governador João Azevedo e o senador Veneziano Vital. A julgar pelos comentários, eles estariam por enquanto preocupados apenas em manter as aparências de um convívio nem sempre amistoso e disfarçando as evidências de que a união dos dois não vai além do ‘peru de Natal’, do ‘champanhe’ do réveillon ou cinzas da Quarta-Feira Ingrata. 

Vené, como chamam os mais chegados (aí incluídos jornalistas que tratam entrevistados com intimidade caseira), estaria desembarcando do governismo para articular um projeto político-eleitoral de oposição – vejam só! – com ninguém menos que o ‘ex-arqui-inimigo’ Cássio Cunha Lima. O desembarque venecista da gôndola palaciana seria o troco a uma suposta, incerta e até aqui jamais confirmada recusa azevedista em consagrar desde agora a advogada Ana Cláudia Nóbrega como companheira de chapa do atual governador na eleição do ano que vem. 

Ex-candidata a prefeita de Campina Grande nas eleições de 2020 e atual secretária de Estado da Articulação Municipal, Ana Cláudia é esposa de Veneziano. Faria sentido, portanto, o pretenso desconforto do senador em manter apoio à reeleição de quem não cederia à vontade do familismo que guia o projeto de poder de determinados grupos políticos da Paraíba. Mas o argumento, puramente especulativo, não resolve o dilema de um jornalismo do qual se espera análise política baseada em fatos reais, concretos, ou em tomadas de posição bem definidas e publicamente transparentes. 

De qualquer modo, mesmo sem elementos que justifiquem a persistência nas adivinhações ou premonições em torno de uma separação litigiosa entre governador e senador, mesmo com toda a água ainda por rolar debaixo das múltiplas pontes partidárias, mesmo diante de infinitas possibilidades de composição... Mesmo assim, difícil não ler, não ver ou não ouvir quase todo santo dia algum jornalista ‘do ramo’ empenhado em acertar lotericamente a formação de chapas e alianças para 2022, mesmo distando mais de um ano das eleições de 2022!

Não tenho, particularmente, qualquer esperança de ainda estar vivo para ver o fim desse estilo de colunismo. Colegas que o exercitam devem ter pesquisas de opinião que atestam o gosto do público leitor, ouvinte ou telespectador por esse ramerrame. Só pode ser. Não fosse assim, jamais ouviria o que ouvi semana passada em uma rádio de João Pessoa. 

Aconteceu de um analista político da emissora, no horário consagrado ao almoço, servir como prato principal o “rompimento” entre Romero Rodrigues, ex-prefeito de Campina Grande, e o atual prefeito, Bruno Cunha Lima. Pois bem, Romero enviou áudio pra rádio desmentindo prontamente o porta-voz da nova e promissora cizânia. Nem assim o jornalista deu-se por vencido, muito menos admitiu ter cometido o que antigamente chamavam de ‘barrigada’. Muito pelo contrário. No ato, na bucha, na lata, voltou ao microfone para retrucar firmemente o firme, sereno e até elegante desmentido do ex-prefeito. 

- Rapaz, nunca ouvi Romero gaguejando tanto... – disse o analista.