Abaixo-assinado que defende bônus para ingresso na UFPB tem dados imprecisos
Por Carmélio Reynaldo (observador credenciado)*
Sem
entrar no mérito da proposta, checamos alguns dados apresentados na petição, com
especial atenção para o destacado na abertura do documento. Diz ele: “Apenas
35% dos ingressantes em cursos da UFPB no ano de 2021 são paraibanos, segundo
os dados do SIGAA (Sistema discente) da própria UFPB.”
No
entanto, levantamento feito pelo professor Jorge Dias, Coordenador do
Laboratório de Gestão e Informação de Dados da UFPB, mostra que esse percentual
é em torno de 65%. Ou seja, o inverso do apontado no abaixo-assinado.
Para
chegar a esse percentual, ano passado o professor, que já coordenou o Observatório
de Dados da Graduação da UFPB, construiu um painel a partir de uma aplicação
analítica para averiguar o perfil dos candidatos classificados e cadastrados no
Sisu para a UFPB em 2020 – portanto, os dados mais recentes disponíveis. O
levantamento mostrou ainda que os percentuais variam conforme o curso e a
localização do campus.
Segundo
o professor, para se ter um percentual mais próximo da realidade é necessário
comparar os dados do endereço que o candidato coloca no cadastramento com o
incluído na ficha do Sisu. “São duas fontes que podem, inclusive, dar respostas
diferentes”.
Ainda
segundo Jorge Dias, para apoiar a adoção do sistema de bonificação não se deve aplicar
o senso comum nem a intuição. “Tem que trabalhar com dados e diversos tipos de dados.
Não é trabalhar com uma fonte única.”
EM
TEMPO
Na
busca de informações a respeito da adoção de bonificações pelas universidades
nordestinas, constatei que a imprensa da região – inclusive a paraibana – tem
dado pouca importância ao fenômeno, se limitando a noticiar superficialmente as
mudanças nos critérios, sem analisar as implicações econômicas e sociais
envolvidas.
Embora
tenha assinado a petição, me preocupo com a possibilidade de a adoção de
políticas dessa natureza se tornarem sementes para a xenofobia. Fui levado pela
percepção de que o crescimento da adesão ao sistema de bonificação pelas
universidades dos outros estados nordestinos tende a criar um desequilíbrio
prejudicial para os estudantes paraibanos.
Outra
constatação que merece registro é que a Universidade Federal do Rio Grande do Norte
adotou um sistema de bonificação extensivo aos paraibanos, especificamente das
seguintes regiões: Catolé do Rocha, Curimataú Paraibano, Patos, Seridó Paraibano
e Sousa. Confira aqui.
*Esta checagem contou com a colaboração dos observadores credenciados David Fernandes e Rubens Nóbrega.
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