quarta-feira, 22 de setembro de 2021

CHECAGEM

Abaixo-assinado que defende bônus para ingresso na UFPB tem dados imprecisos

Descrição para cegos: foto da entrada principal do campus da UFPB em João Pessoa, inspirada em pássaro com asas abertas, sob as quais passam a pista de rolamento de veículos e a calçada. No centro da construção está a cabine da segurança que sobe como pequena torre até ficar acima da figura alada. No seu entorno se vê parte da mata da reserva florestal onde o campus foi implantado, a cerca que a protege, os portões e o canteiro com grama e mudas de palmeiras.

Por Carmélio Reynaldo (observador credenciado)*


Está disponível no site de petições Change.org um abaixo-assinado defendendo que as universidades federais da Paraíba e de Campina Grande (UFPB e UFCG) adotem o sistema de bônus sobre a nota do Enem para candidatos que cursaram o ensino médio no estado.

Sem entrar no mérito da proposta, checamos alguns dados apresentados na petição, com especial atenção para o destacado na abertura do documento. Diz ele: “Apenas 35% dos ingressantes em cursos da UFPB no ano de 2021 são paraibanos, segundo os dados do SIGAA (Sistema discente) da própria UFPB.”

No entanto, levantamento feito pelo professor Jorge Dias, Coordenador do Laboratório de Gestão e Informação de Dados da UFPB, mostra que esse percentual é em torno de 65%. Ou seja, o inverso do apontado no abaixo-assinado.

Para chegar a esse percentual, ano passado o professor, que já coordenou o Observatório de Dados da Graduação da UFPB, construiu um painel a partir de uma aplicação analítica para averiguar o perfil dos candidatos classificados e cadastrados no Sisu para a UFPB em 2020 – portanto, os dados mais recentes disponíveis. O levantamento mostrou ainda que os percentuais variam conforme o curso e a localização do campus.

Segundo o professor, para se ter um percentual mais próximo da realidade é necessário comparar os dados do endereço que o candidato coloca no cadastramento com o incluído na ficha do Sisu. “São duas fontes que podem, inclusive, dar respostas diferentes”.

Ainda segundo Jorge Dias, para apoiar a adoção do sistema de bonificação não se deve aplicar o senso comum nem a intuição. “Tem que trabalhar com dados e diversos tipos de dados. Não é trabalhar com uma fonte única.”

EM TEMPO

Na busca de informações a respeito da adoção de bonificações pelas universidades nordestinas, constatei que a imprensa da região – inclusive a paraibana – tem dado pouca importância ao fenômeno, se limitando a noticiar superficialmente as mudanças nos critérios, sem analisar as implicações econômicas e sociais envolvidas.

Embora tenha assinado a petição, me preocupo com a possibilidade de a adoção de políticas dessa natureza se tornarem sementes para a xenofobia. Fui levado pela percepção de que o crescimento da adesão ao sistema de bonificação pelas universidades dos outros estados nordestinos tende a criar um desequilíbrio prejudicial para os estudantes paraibanos.

Outra constatação que merece registro é que a Universidade Federal do Rio Grande do Norte adotou um sistema de bonificação extensivo aos paraibanos, especificamente das seguintes regiões: Catolé do Rocha, Curimataú Paraibano, Patos, Seridó Paraibano e Sousa. Confira aqui.

*Esta checagem contou com a colaboração dos observadores credenciados David Fernandes e Rubens Nóbrega. 

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