quarta-feira, 25 de agosto de 2021

COPIA-E-COLA

Crise reduz produção jornalística própria de portais

Descrição para cegos: imagem da home page da Assembleia Legislativa com a notícia da aprovação do perdão das dívidas por emplacamento, a qual é ilustrada por reprodução da tela da reunião virtual. Nesta, aparecem, em pequenos quadros, as deputadas e deputados, além de um relógio marcando a hora (02:21) e o painel de votação. 

Por Rubens Nóbrega (observador credenciado)

Nascido e criado para ser subsídio, não raro o release do poder público assume o lugar da notícia divulgada, mas não produzida, por veículo privado de comunicação da Paraíba.

Aconteceu ontem (24), por exemplo, com informação publicada originalmente pela Assembleia Legislativa sobre aprovação de projeto do governo estadual que anistia débitos no emplacamento de motos. 

Informação de interesse imediato de 284 mil pessoas, a sessão que aprovou a anistia não foi objeto de cobertura ou produção jornalística própria de alguns dos principais portais de notícia da capital.


Apenas o G1 Paraíba elaborou e publicou material – curtinho – ‘da casa’. Correio, PB Agora, ClickPB e T5 (TV Tambaú) copiaram e colaram trechos ou a íntegra do texto publicado no site da Assembleia. Não foi encontrada matéria sobre o assunto no Polêmica Paraíba nem atualização no WScom e no Paraíba.com

Outro detalhe: Correio e PB Agora creditaram a autoria da publicação às suas respectivas redações e não à Agência de Notícias da Assembleia, autora de fato e de direito do conteúdo usado por aqueles portais.

Efeito das crises

Esse copia-e-cola de releases é prática antiga acentuada mais recentemente por crises que afetam duramente, quando não fecham, empresas paraibanas da comunicação de massa.

Perdendo assinantes e anunciantes que lhes dariam suporte financeiro, essas empresas cortam ‘no osso ‘ sua força de trabalho, sobrecarregando no que sobra de empregados as múltiplas funções do fazer jornalístico. 

E nesse bater o escanteio e correr até a pequena área pra cabecear e mandar a bola pra rede, o jornalista é repórter, redator, editor, fotógrafo, diagramador e o que mais ‘pintar’ durante a partida, quer dizer, durante a jornada.

Sem quadro profissional minimamente suficiente para cobrir, apurar, investigar e produzir seu próprio noticiário, muitos portais, rádios e tevês com espaços ou programas ditos jornalísticos limitam-se à mera veiculação de fatos sem qualquer aprofundamento ou questionamento. 

A maioria dos leitores, espectadores e ouvintes fica sem saber, por exemplo, quanto o generoso perdão de dívidas representa em termos e valores de renúncia fiscal (o ClickPB foi o único que trouxe tal informação). E quão desconcertante seria para quem paga em dia suas contas, incluindo IPVA e taxas do Detran. 

De outro lado, seria cabível perguntar (a alguém da oposição, por exemplo) se a medida favorece ou não eleitoralmente o governador, vez que consumada em ano pré-eleitoral. Até para ‘empatar’ com as declarações de governistas elogiando a anistia, colhidas pela Comunicação da Assembleia e replicadas – sem tirar um ‘ai’ - por quem copiou e colou. 

Por essas e outras, no sufoco multitarefa em que muitos trabalhadores do jornalismo se encontram, um ‘rilisinho’ assim bem feitinho feito esse da Assembleia é mão na roda, como diziam no tempo em que jornalista fazia jornal impresso, mas cada um com o seu cada qual. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos seu comentário. Ele será publicado depois de submetido à moderação, regra adotada para evitar ofensas e spams.