Marighella, a censura e o jornalismo cartelizado
Por Carmélio Reynaldo (observador associado)
É preciso
registrar: ontem, ao noticiar a morte da jornalista Cristiana Lôbo, o Jornal
Nacional citou Lula e Dilma Rousseff entre as personalidades que enviaram
condolências. Não sei se o leitor ou a leitora percebeu, mas os nomes dessas
duas lideranças estão sendo boicotados já há algum tempo pela Rede Globo e
demais veículos que compõem uma espécie de cartel da notícia no Brasil. Essa
interdição, sabe-se bem, é só uma parte do esforço para impedir o PT de
reassumir a Presidência da República.
O filme Marighella,
de Wagner Moura, recentemente lançado, mostra, em vários momentos, o empenho do
líder de um dos núcleos da resistência ao golpe de 1964 em conseguir espaço na
imprensa para divulgar as ideias da oposição ao regime militar e denunciar
prisões, torturas e assassinatos de militantes da esquerda.
Em um dos
momentos em que foi baleado e preso, Carlos Marighella escapou da morte no
cárcere porque um jornal noticiou sua prisão. De volta à liberdade e à militância,
tornou-se obcecado pela necessidade de levar o discurso da resistência para a
mídia. Uma das formas adotadas foi a criação de uma espécie de rádio pirata,
chamada Rádio Libertadora, que conseguiu algumas proezas que não vou contar
para evitar antecipar episódio marcante do filme.
Essa mistura
de assuntos aqui tem um objetivo: mostrar que uma das mais lúcidas demandas da
esquerda durante a ditadura foi negligenciada por ela quando chegou ao poder em
2003, com Lula na Presidência e ampla popularidade a seu favor. Embora a
Constituição de 1988 recomende regulamentar e democratizar a comunicação, o
presidente agiu da mesma forma que os antecessores e, ignorando os alertas e
apelos das organizações sociais defensoras dessa regulamentação, empurrou o
problema com a barriga até quase o final do seu mandato.
Depois de
ser massacrado pelo discurso unificado que o envolvia em um presumível esquema
de compra de parlamentares, despertou para a necessidade de elaborar um projeto
de democratização dos meios de comunicação. Como não havia mais tempo para
levá-lo adiante, legou-o à sucessora Dilma Rousseff.
A forma como
a presidenta tratou a proposta foi um dos momentos mais lamentáveis do seu
governo. Foi quando confundiu o controle social da mídia com o impulso
individual de reagir a conteúdos veiculados, ao afirmar que o melhor controle é
o controle remoto. Nessa ocasião, a mídia, que a tratava com extrema má
vontade, a incensou, embora essa calmaria tenha sido curta. Logo depois voltou
a intolerância, a ponto de jornalistas mulheres preferirem, em vez de
pronunciar seu nome, usar a expressão “aquela senhora”.
Projeto
engavetado, Dilma só veio reconhecer o erro quando, a pretexto de supostas
pedaladas fiscais, seu afastamento era irreversível, legitimado em todos os
canais jornalísticos de grande audiência.
No último dia 5 de outubro completaram-se 33 anos da promulgação da Constituição de 1988. Também fizeram aniversário seus artigos que clamam pela regulação da mídia, única forma de evitar que o país continue acuado entre o jornalismo cartelizado e os gabinetes disseminadores de fake news.
Carmélio chamo atenção sobre como essa candidatura do Lula não dá o mínimo espaço para discussão de um programa popular que envolva a reversão das reformas (Trabalhista e Previdência), retomada dos ativos e campos da Petrobrás que foram vendidos a preços de banana e o debate sobre a democratização da mídia. São pontos que considero fundamentais para a construção de um governo popular e progressista, mas sempre vejo a mesma resposta quando alguém da campanha é indagado: "depende das ruas".
ResponderExcluirIsso, André. O PT precisa atender às pautas de quem sempre esteve com ele.
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