sexta-feira, 12 de novembro de 2021

DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO

Marighella, a censura e o jornalismo cartelizado

Descrição para cegos: imagem publicada em jornais da época mostra três fotos de Marighella colocadas lado a lado. Na primeira, ele está de perfil; nas outras duas, de frente, sendo que na terceira está de chapéu. As fotos têm semelhança com as usadas para fichar prisioneiros, impressão reforçada por uma espécie de placa colocada sobre o peito na foto do meio, cujo conteúdo está ilegível.

Por Carmélio Reynaldo (observador associado) 

É preciso registrar: ontem, ao noticiar a morte da jornalista Cristiana Lôbo, o Jornal Nacional citou Lula e Dilma Rousseff entre as personalidades que enviaram condolências. Não sei se o leitor ou a leitora percebeu, mas os nomes dessas duas lideranças estão sendo boicotados já há algum tempo pela Rede Globo e demais veículos que compõem uma espécie de cartel da notícia no Brasil. Essa interdição, sabe-se bem, é só uma parte do esforço para impedir o PT de reassumir a Presidência da República.

O filme Marighella, de Wagner Moura, recentemente lançado, mostra, em vários momentos, o empenho do líder de um dos núcleos da resistência ao golpe de 1964 em conseguir espaço na imprensa para divulgar as ideias da oposição ao regime militar e denunciar prisões, torturas e assassinatos de militantes da esquerda.

Em um dos momentos em que foi baleado e preso, Carlos Marighella escapou da morte no cárcere porque um jornal noticiou sua prisão. De volta à liberdade e à militância, tornou-se obcecado pela necessidade de levar o discurso da resistência para a mídia. Uma das formas adotadas foi a criação de uma espécie de rádio pirata, chamada Rádio Libertadora, que conseguiu algumas proezas que não vou contar para evitar antecipar episódio marcante do filme.

Essa mistura de assuntos aqui tem um objetivo: mostrar que uma das mais lúcidas demandas da esquerda durante a ditadura foi negligenciada por ela quando chegou ao poder em 2003, com Lula na Presidência e ampla popularidade a seu favor. Embora a Constituição de 1988 recomende regulamentar e democratizar a comunicação, o presidente agiu da mesma forma que os antecessores e, ignorando os alertas e apelos das organizações sociais defensoras dessa regulamentação, empurrou o problema com a barriga até quase o final do seu mandato.

Depois de ser massacrado pelo discurso unificado que o envolvia em um presumível esquema de compra de parlamentares, despertou para a necessidade de elaborar um projeto de democratização dos meios de comunicação. Como não havia mais tempo para levá-lo adiante, legou-o à sucessora Dilma Rousseff.

A forma como a presidenta tratou a proposta foi um dos momentos mais lamentáveis do seu governo. Foi quando confundiu o controle social da mídia com o impulso individual de reagir a conteúdos veiculados, ao afirmar que o melhor controle é o controle remoto. Nessa ocasião, a mídia, que a tratava com extrema má vontade, a incensou, embora essa calmaria tenha sido curta. Logo depois voltou a intolerância, a ponto de jornalistas mulheres preferirem, em vez de pronunciar seu nome, usar a expressão “aquela senhora”.

Projeto engavetado, Dilma só veio reconhecer o erro quando, a pretexto de supostas pedaladas fiscais, seu afastamento era irreversível, legitimado em todos os canais jornalísticos de grande audiência.

No último dia 5 de outubro completaram-se 33 anos da promulgação da Constituição de 1988. Também fizeram aniversário seus artigos que clamam pela regulação da mídia, única forma de evitar que o país continue acuado entre o jornalismo cartelizado e os gabinetes disseminadores de fake news. 

2 comentários:

  1. Carmélio chamo atenção sobre como essa candidatura do Lula não dá o mínimo espaço para discussão de um programa popular que envolva a reversão das reformas (Trabalhista e Previdência), retomada dos ativos e campos da Petrobrás que foram vendidos a preços de banana e o debate sobre a democratização da mídia. São pontos que considero fundamentais para a construção de um governo popular e progressista, mas sempre vejo a mesma resposta quando alguém da campanha é indagado: "depende das ruas".

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  2. Isso, André. O PT precisa atender às pautas de quem sempre esteve com ele.

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