sábado, 19 de fevereiro de 2022

Policialesco reforça preconceito

contra ocupações populares

Descrição para cegos: foto de uma parede onde se lê a pichação: “Você tem onde morar? Eu não”. Ao lado da pichação, veem-se bolsas penduradas em um prego. (foto de Fernanda Morena).

Por Mabel Dias (observadora credenciada)

No último sábado, 12 de fevereiro, o programa policialesco Cidade em Ação, transmitido pela TV Arapuan, exibiu uma reportagem sobre a prisão de duas pessoas que, segundo a guarda municipal de João Pessoa, responsável pela prisão, estavam realizando golpes pela internet. Entre os entrevistados na matéria estão o Secretário de Segurança Municipal, João Almeida, e uma das guardas municipais que atuou para a detenção dos suspeitos.

No momento da entrevista com o secretário, realizada pela repórter Thaisa Aureliano, são mostradas imagens da Ocupação Popular Terra Livre, que fica na Av. Pedro II, Centro da capital. Segundo o secretário, as pessoas que foram detidas estavam morando nessa ocupação. A imagem do local é exibida várias vezes durante a reportagem, enquanto o secretário fala em “formação de quadrilha”.

Em nenhum momento, a equipe de reportagem da Arapuã foi até a ocupação Terra Livre e procurou os responsáveis pelo local para saber a sua versão dos acontecimentos. Não fazendo o que preconiza o Jornalismo, ouvir os dois lados de uma história. Nós do Observatório Paraibano de Jornalismo fizemos isso, pois acompanhamos há algum tempo o trabalho desenvolvido pela coordenação da ocupação com as famílias que moram lá.

A mídia tradicional não demonstra muito apreço a ocupações nem as lutas populares, e por isso, nas matérias sobre esses movimentos reforça mais estereótipos do que os combate. E quando se trata de programas policialescos, então...

Da maneira que foi repassado pela reportagem do Cidade em Ação, reforça-se no imaginário da sociedade que na Ocupação Terra Livre “só tem bandidos”, pois duas pessoas, bom que se diga, suspeitas de estarem realizando golpes virtuais, moravam lá. Isso segundo o Secretário de Segurança do município, João Almeida.

Procuramos as pessoas responsáveis pela ocupação através do Instagram da Escola Terra Livre, que oferece aulas gratuitas para as crianças que moram na ocupação. Falamos com a coordenação pedagógica da escola, que demonstrou preocupação com a exibição da reportagem e disse não conhecer as pessoas que foram presas.

“As famílias que moram na Ocupação Terra Livre trabalham, mas não têm condições de pagar aluguel, por isso ocuparam esse local, que estava abandonado, sem uso. Temos muitas mulheres com filhos, e por isso, decidimos organizar uma escola para as crianças”.

A coordenação da Escola Terra Livre nos contou também que existe uma comissão encarregada de administrar a Ocupação, formada pelos próprios moradores e moradoras, e a equipe da escola oferece apoio. “A escola funcionava na frente da casa, mas por causa do barulho dos carros que passam pela rua, estamos construindo uma sala e ela ainda está sendo finalizada, e assim, podermos oferecer melhores condições de aprendizagem para as crianças”, explicou.

No Instagram da escola da ocupação foi iniciada uma campanha permanente para arrecadar recursos e garantir o funcionamento do local. A escola popular Terra Livre foi criada em 12 de outubro de 2021, Dia das Crianças, e atende crianças e adolescentes da ocupação, que vivem em situação de vulnerabilidade social, com aulas de segunda a sexta, com o objetivo de ajudar no desenvolvimento, tanto escolar como pessoal e social, promovendo uma educação contextualizada no meio social e de luta que vivenciam.

Se você quiser ajudar e conhecer melhor o trabalho desenvolvido na Ocupação Terra Livre, é só acessar o Instagram deles: @escolaterralivre.

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