Jornalismo e Literatura na Paraíba: uma relação muito ocasional
Literatura
Paraibana e Cobertura Jornalística: existe visibilidade na imprensa para a
produção local na literatura? Este foi o mote central do “Observatório Debate” desta
semana, em programa que subiu ao canal do OPJor na última quarta-feira à tarde.
Conduzido pela
professora Joana Belarmino, o programa levou à bancada três integrantes do
Clube do Conto da Paraíba: a escritora Romarta Ferreira e os escritores André
Ricardo Aguiar e Antônio Mariano. Romarta e André também são jornalistas.
O debate foi
alimentado por um levantamento inicial realizado nos principais portais
jornalísticos, onde se constata que a Literatura quase não tem pauta na
imprensa local, e quando aparece, é por meio de notas curtas, divulgação de
algum lançamento, notícias que estão comprimidas nas editorias de cultura ou de
arte e entretenimento.
“A relação
entre a imprensa e a Literatura paraibana é ocasional, a mídia valoriza muito
mais os grandes espetáculos como shows”, comentou Romarta Ferreira. Para Antônio
Mariano, autor de sete livros já publicados e um em processo de publicação, a
imprensa já deu mais espaço aos escritores. Lembra-se da cobertura dada ao
lançamento do seu primeiro livro, “O dia em que comemos Maria Dulce”, publicado
nos anos 90. Para André Aguiar, autor de dez livros publicados e com uma
trajetória bem sucedida na literatura infantojuvenil, hoje os escritores
apostam nas redes sociais para sua própria divulgação.
Os debatedores
concordaram, entretanto, que a relação imprensa e Literatura precisa ser de mão
dupla. “Os escritores precisam bater às portas da mídia e se fazerem visíveis”,
disse Antônio Mariano.
Já nos portais independentes, a Literatura tem mais espaço. Romarta Ferreira lembrou do importante trabalho de divulgação de escritores locais através do Diário de Vanguarda, assim como pelo portal Paraíba Criativa, que mantém uma página dedicada à literatura paraibana
Correio das Artes
e sua longa relação com a Literatura
Os escritores
fizeram como que uma espécie de homenagem ao caderno de cultura do Jornal A
União, e ao seu suplemento “Correio das Artes”, onde, afirmaram, a Literatura
paraibana tem espaço relevante. Falaram da longa vida do Correio das Artes, que
há várias décadas mantém-se firme no único jornal que ainda circula em modo
impresso na Paraíba. Reafirmaram a importância do suplemento para a cultura e as artes, com reconhecido
valor não apenas na Paraíba, mas em âmbito nacional.
Jornalismo e
Literatura: dois campos que se entrelaçam
O debate
caminhou para as especialidades do jornalismo, e de como a Literatura e o
próprio campo jornalístico estão entrelaçados. Convocados a falar enquanto
leitores de jornal, destacaram a falta de grandes reportagens nos portais
locais, e concordaram com a afirmação corrente no debate universitário, de que a
prática da grande reportagem é importante ferramenta para dar qualidade e
profundidade ao jornalismo.
André Aguiar
lembrou que os acontecimentos do jornalismo diário também são um campo fértil
para a narrativa literária. Mariano recordou que em um dos seus contos, o
principal personagem é um jornalista.
Clube do
Conto da Paraíba: vinte anos de amor pela Literatura
A parte final
do Observatório Debate fez uma homenagem ao Clube do Conto da Paraíba, fundado
nos idos de 2004, pelo escritor Antônio Mariano, a historiadora e escritora
Dora Limeira, agregando depois nomes importantes da Literatura local, como
Marília Arnaud, Wellington Pereira, Ronaldo Monte, Geraldo Maciel e tantos
outros.
Nada foi
planejado. Mas a agenda do estúdio bateu com a data de aniversário do Clube.
Então a conversa fluiu solta e alegre. Vieram as recordações de Mariano, do
tempo da fundação. Romarta, há quinze anos frequentando a “casa”, como ela
mesma identifica o clube, trouxe os números desses vinte anos: três coletâneas
publicadas e uma a caminho.
André Aguiar,
que também incursiona agora pelo mercado editorial, através da editora
Dromedário, falou do novo livro. “É o livro de homenagem a esses vinte anos.
Estamos com uma vaquinha no Catarse, e quem cooperar não vai se arrepender”.
Segundo Aguiar,
além dos 42 autores publicados, o livro trará memórias como as atas das
reuniões do clube do conto, “atas que são narrativas saborosas, loucas,
divertidas...”.
O Clube do Conto
conta atualmente com mais de 70 integrantes. O seu capital não é financeiro.
Suas vigas são o as do afeto, da convivialidade e do amor pela narrativa
literária. O Clube também não tem sede própria. Reúne-se aos sábados, em local
a combinar, muitas vezes no terraço da casa de Maria Valéria Rezende, a
escritora premiada que integra o clube quase desde a sua fundação.
Antônio Mariano finalizou o debate lembrando os membros do Clube que já partiram. José Brenand, Geraldo Maciel, Dora Limeira, Ronaldo Monte, vidas e legados que sedimentam a força do Clube do Conto para os novos integrantes que chegam.
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